Quarta, 29/05/13

Meu puxadinho, meu lar. 
Em fim realizamos nosso sonho - dividir o mesmo espaço, juntar nossos trapinhos, casar, tudo conforme manda o figurino. Não tínhamos no bolso um tostão furado, apenas desejo e vontade, além do amor que nutríamos um pelo outro, que, diga-se de passagem, era infinito. Estávamos determinados, enfrentaríamos o mundo se preciso; juntos! Não aguentávamos mais dormir em camas separadas, viver de forma desordenada, por causa de detalhes ínfimos, isso não seria mais empecilho, pensei cá comigo, o nosso amor é bem mais forte que isso! Viveremos um dia de cada vez, só o presente nos importa, o futuro a Deus pertence; maior que os obstáculos, são os laços que nos une a identidade que criamos e desenvolvemos ao longo dos tempos! Se nos faltava grana, tínhamos de sobra empenho, criatividade e força de vontade de construir nosso cantinho, e depois irmos morar nele! Isso me serviu de combustível e de estimulo, não digo que se tornou mais fácil, mas com certeza menos difícil, pois, a partir desse instante arregacei as mangas, e literalmente meti a mão na massa, construir com minhas próprias mãos, nosso puxadinho, a nossa humilde casa, nosso pedacinho de céu, nosso reduto de amor; sem falsa modéstia, ficou um primor. Sala, corredor, quarto, cozinha, banheiro e área de serviço. Faltava só comprar alguns móveis e utensílios, e mudar de vez com a minha amada, para o nosso ninho. Na sala, só cabe sofá de dois e três lugares, no máximo e um ranking pra colocar a TV, o receptor da parabólica e o home tiete; para não ficar muito apertado o corredor fica vazio, no quarto uma cama Box de casal e um guarda roupa de quatro portas; quer pra a gente colocar nossas roupas, um pufe pra colocar um ventilador, pra que nós não morramos mordidos pelas muriçocas nem abafado com o calor, um espelho colocado na parede com pregos, quer pra gente se olhar ao se trocar e pentear os cabelos, um notebook quer pra gente navegar na net regularmente, na cozinha um fogão de quatro bocas e um botijão de gás, um armário de parede da marca Itatiaia na cor branca com verde, uma geladeira combinando com o armário, e uma mesa com quatro cadeiras, em cima dela uma garrafa térmica, salgueiro açucareiro, paliteiro e os talheres (garfos, facas, colheres, além de copos, pratos, xícaras e pires), só vendo como a nossa cozinha ficou chique; no banheiro, uma pia quer pra nós lavar as mãos e escovar os dentes, um lugar pra colocar o xampu, creme dental, cotonetes, sabonetes fio dental e escovas de dente; e um vaso sanitário que eu não preciso dizer pra que serve; um reservatório de água doce e outro de água salgada, o primeiro quer pra nós beber por um bom tempo sem comprar água, e o segundo quer pra tomar banho, lavar as nossas roupas, e colocá-las num varal de uma ponta a outra esticada, quando faltar água encanada; também duas cordas colocadas nos caibros quer pra amarrar a minha rede e eu dormir nela quando a minha mulher estiver zangada. Pronto, agora não falta mais nada, é só marcar a data do casório, na igreja e no cartório, se ajoelhar nos pés do padre e dizer: - sim, é de livre e espontânea vontade que eu aceito me casar, e depois é só sair da igreja sobre forte chuva de arroz na cabeça, e ir até a casa de meus sogros, junto com familiares, padrinhos, convidados e amigos mais chegados, comemorar este que sem dúvidas, é um dos acontecimentos mais importantes da nossa vida; o velho milagrosamente tirou o escorpião do bolso, gastando alguns tostões que tinha no banco, pra bancar a festa de casamento de sua filha caçula. Uma alma vai se salvar, amém! Aleluia! A festa se estendeu mais do que gostaríamos, não que não estivéssemos curtindo a nossa festa de casamento, longe disso, é que nós queríamos mesmos é ficar sozinhos, foram anos de muita labuta, marcação serrada dos pais, olhares curiosos e maldosos dos vizinhos, comentários disso e daquilo; acreditávamos que a partir de agora tudo seria esquecido, entraríamos para o holl dos casados, de modo que não haveria mais necessidades nem motivos pra fuxicos, não que houvesse antes, mas sabe como é que é a língua de gente mexeriquento e enxerido, vive metendo o bedelho aonde não lhe é devido. Em suma, nos despedimos dos convidados, familiares e amigos, trocamos de roupas, e fomos passar a noite de núpcias num hotel fazenda, num município vizinho ao nosso. Queria mesmo era poder levá-la a uma cidade histórica da Europa, a exemplo de: Paris, Veneza, Nova York, Madrid e Barcelona, mas quem sabe um dia a gente ainda não possa? O mais importante havia se consumado, conforme um dia havíamos sonhado e profetizado, que era a gente se casar. Foram só dois dias que passaram rápidos, mas que ficaram para sempre eternizados na nossa memória, logo, percebi e entendi que lugares são meros detalhes, que o mais importante é estar ao lado de quem se ama, e se gosta. E nesse caso não tínhamos do que reclamar, pois nos amávamos, e tínhamos um ao outro, o resto, não importa. Já na segunda-feira estávamos de volta, família, amigos, e demais curiosos nos esperavam ansiosos á porta, parecia que estavam chegando celebridades na festa de entrega do Oscar, só faltava mesmo o tapete vermelho, e a estatueta que nos seria entrega na porta. “E o Oscar vai para... kkkk”. Bando de curiosos, nem precisava ser vidente para ler o que estava se passando em vossas mentes, mas o que importa é que a nossa felicidade era nítida e notória, fundamentada não sobre a areia, mas sobre a rocha. A nossa lua de mel fora inesquecível, e permaneceria mesmo em nossa casa simplória. Cumprimentamos a todos a nossa volta, abraços, beijos, apertos demãos, teve de tudo, até tapinhas nas costas, fizemos uma boquinha na casa da vizinha mais próxima, e combinamos almoçar no final de semana, na casa da sogra, confesso que essa foi de lascar, foi foda.  mas tudo bem, essa deixei passar, somente para não contrariar a minha digníssima esposa, mas ela ( minha sogra) que não pense que vai continuar como antes, aqui quem canta de galo sou eu, e não aceito além de minha princesa, outra pessoa se manifestar. Aliás, esse era um dos motivos pelos os quais nós decidimos nos casar- ter a nossa casa, nosso lar, a nossa privacidade, sem ninguém pra interpelar. Sabíamos que iríamos pagar um alto preço, mas nem por isso decidimos retroceder, e sim enfrentar ondas de qualquer mar. O nosso amor era o combustível que iria nos fortalecer e as mais altas nuvens nos elevar. As nossas noites de núpcias no campo fora espetacular, porém a nossa primeira bem como as demais noite em nossa humilde residência, não deixa em nada a desejar, fora no mínimo o máximo, ainda que vivamos mil anos, nunca vamos deixar de lembrar, nem melhor nem pior, apenas, diferenciado. O clima só foi quebrado com o dia e a hora de voltar ao trabalho, não que a gente fosse alheio ao pesado, ao contrário, é que não havíamos ainda nos conscientizados e acostumados, que durante a semana, no mínimo oito horas diários iríamos ter de nos separar, era a tal da realidade pedindo passagem, infelizmente não se vive só de amor, essa sem dúvidas é a parte mais chata, ter de passar o dia longe da mulher amada, focar no serviço, meter a cara literalmente no trabalho, era preciso, afinal de que outra forma poderia sustentá-la? Mas contava no relógio as horas, os minutos e segundos de poder voltar pra casa, e finalmente poder lhe abraçar, beijar, matar esta saudade que meu peito invade, e de tão doida me faz até chorar. Queria mesmo é ser mágico, poder parar o tempo, e ficar pra sempre, deitado na nossa cama, nos braços da mulher que me ama, que me tira do sério, que me leva as nuvens e me faz flutuar; parece um sonho mais agora é real, íamos poder fazer o que der na telha, sem ter que dá satisfação a quem quer que seja, ninguém para consultar, vigiar, atrapalhar, ter que dizer onde estão indo e a que horas vão retornar. Somos agora um só; dois corpos e um só coração, ela faz parte de mim, como Eva de adão, compartilharemos tudo: alegrias e tristezas, dúvidas e certezas, coragem e medo, sorrisos e lágrimas, companheirismo e solidão, somos duas metades da mesma laranja, um é razão, e o outro emoção. Se um cai, o outro logo lhe estende a mão. Se eu sou o seu porto seguro, ela é minha asa delta onde vivo a plainar, a minha razão de ser, existir, dormir, acordar, respirar, andar, falar, sonhar, em suma, ela é a razão pela qual eu ainda estou vivo, sem ela não vale apena continuar.

Adilson A. da Silva  

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